terça-feira, 21 de dezembro de 2010

O valor do serviço


sobre um texto de Isaías, passou a comentar a diferença entre os justos e injustos,
de maneira a destacar o valor da santidade na Terra.
O Mestre ouviu calmamente, e, talvez para prevenir os excessos de opinião,
narrou, com bondade:
— Certo fariseu, de vida irrepreensível, atingiu posição de imenso respeito
público. Passava dias inteiros no Templo, entre orações e jejuns incessantes.
Conhecia a Lei como ninguém. Desde Moisés aos últimos Profetas, decorara os
mais importantes textos da Revelação. Se passava nas ruas, era tão grande a
estima de que se fizera credor, que as próprias crianças se curvavam, reverentes.
Consagrara-se ao Santo dos Santos e fazia vida perfeita entre os pecadores da
época. Alimentava-se frugalmente, vestia túnica sem mancha e abstinha-se de falar
com toda pessoa considerada impura.
Acontece, todavia, que, havendo grande peste em cidade próxima de
Jerusalém, um Anjo do Senhor desceu, prestimoso, a socorrer necessitados e
doentes, em nome da Divina Providência.
Necessitava, porém, das mãos diligentes de um homem, através das quais
pudesse trabalhar, apressado, em benefício de enfermos e sofredores.
Lembrou-se de recorrer ao santo fariseu, conhecido na Corte Celeste por seus
reiterados votos de perfeição espiritual, mas o devoto se achava tão profundamente
mergulhado em suas contemplações de pureza que não lhe sobrava o mínimo
espaço interior para entender qualquer pensamento de socorro às vítimas da
epidemia.
Como cooperar com o emissário divino, nesse setor, se evitava o menor
contacto com, o mundo vulgar, classificado, em sua mente, como vale da imundície?
O Anjo insistia no chamamento; contudo, a peste era exigente e não admitia
delongas.
O mensageiro afastou-se e recorreu a outras pessoas amantes da Lei.
Nenhuma, entretanto, se julgava habilitada a contribuir.
Ninguém desejava arriscar-se.
Instado pelas reclamações do serviço, o Enviado de Cima encontrou antigo criminoso que mantinha o propósito de regenerar-se. Através dos fios invisíveis do pensamento, convidou-o a segui-lo; e o velho ladrão, sinceramente transformado,não hesitou. Obedeceu ao doce constrangimento e votou-se sem demora, com a espontaneidade da cooperação robusta e legítima, ao ministério do socorro e da
salvação.
Enterrou cadáveres insepultos, improvisou remédios adequados à situação,
semeou o bom ânimo, aliviou os aflitos, renovou a coragem dos enfermos, libertou
inúmeras criancinhas ameaçadas pelo mal, criou serviços de consolação e esperança
e, com isso, conquistou sólidas amizades no Céu, adiantando-se de
surpreendente maneira, no caminho do Paraíso.
Os presentes registraram a pequena história, entre a admiração e o
desapontamento e, porque ninguém interferisse, o Senhor comentou, em seguida a
longo intervalo:
— A virtude é sempre grande e venerável, mas não há de cristalizar-se à
convívio.
E reparando que os ouvintes se retraíam no grande silêncio, o Senhor encerrou o culto doméstico da Boa Nova, a fim de que o repouso trouxesse aos companheiros multiplicadas bênçãos de paz e meditação, sob o firmamento pontilhado de luz.
Filipe, velho pescador de Cafarnaum, enlevado com as explanações de Jesusmaneira de jóia rara sem proveito. Se o amor cobre a multidão dos pecados, o serviço santificante que nele se inspira pode dar aos pecadores convertidos ao bem a companhia dos anjos, antes que os justos ociosos possam desfrutar o celeste

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