terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O maior servidor

Presente à reunião familiar, Filipe, em dado instante, perguntou ao Divino
Mestre:
— Senhor, qual é o maior servidor do Pai entre os homens na Terra?
Jesus refletiu alguns minutos e contou:
— Grande multidão se congregava em extenso campo, quando aí estacionou
famoso guerreiro carregado de espadas e medalhas, que passou a dar lições de
tática militar, concitando os circunstantes ao aprendizado da defesa. O povo
começou a fazer exercícios laboriosos, dando saltos e entregando-se a perigosas
corridas, sem proveito real; todavia, continuou como dantes, sem rumo e sem júbilo,
perdendo muitos jovens nas atividades preparatórias de guerra provável. Logo
depois, apareceu na mesma região um grande político, com pesada bagagem de
códigos, e dividiu a massa em vários partidos, declarando-se os moços contra os
velhos, os lares pobres contra os ricos, os servos contra os mordomos, e, não
obstante a sementeira de benefícios materiais, introduzidos na zona pela
competição dos grupos entre si, o político seguiu adiante, deixando escuros
espinheiros de ódio, desengano e discórdia entre os seus colaboradores. Depois
dele, surgiu um filósofo, sobraçando volumosos alfarrábios e dividiu o povo em
variadas escolas de crença que, em breve, propagavam infrutíferas discussões nos
círculos de toda gente; a multidão duvidou de tudo, até mesmo da existência de si
própria. A filosofia, sem dúvida, apresentava singulares vantagens, destacando-se
(a do estímulo ao pensamento, mas as perturbações de que se fazia acompanhar
eram das mais lastimáveis, legando o filósofo muitas indagações inúteis aos
cérebros menos aptos ao esforço de elevação. Em seguida, compareceu um sacerdote,
munido de roupagens e símbolos, que forneceu muitas regras de adoração ao
Pai, O povo aprendeu a dobrar os joelhos, a lavar-se e a suplicar a proteção divina,
em horas certas. Entretanto, todos os problemas fundamentais da comunidade
permaneceram sem alteração.
No extenso domínio, não havia diretrizes ao trabalho, nem ânimo consciente,
nem valor, nem alegria. A doença e a morte, a necessidade e a ignorância eram
fantasmas de toda a gente.
Certo dia, porém, apareceu ali um homem simples. Não trazia armas, nem
escrituras, nem discussões e nem imagens, mas pelo sorriso espontâneo revelava
um coração cheio de boa-vontade, guiando as mãos operosas. Não pregava
doutrinas espetacularmente todavia, nos gestos de bondade pura e constante,
rendia culto sincero ao Todo-Poderoso. Começou a evidenciar-se, lavrando uma
nesga do campo e adornando-a de flores e frutos preciosos. Conversava com os
seus companheiros de luta, aproveitando as horas no ensinamento fraterno e
edificante e transmitia suas experiências a todos os que se propusessem ouvi-lo.
Aperfeiçoou a madeira, plantou árvores benfeitoras, construiu casas e instalou uma
escola modesta. Em breve, ao redor dele, viçavam a saúde e a paz, a fraternidade e
as bênçãos do serviço, a prosperidade e o contentamento de viver. Com o espírito
de trabalho e educação que ele difundia, a defesa era boa, a política ajudava, a
filosofia era preciosa e o sacerdócio era útil, porque todas as ações, no campo,
permaneciam agora presididas pelo santo imperativo da execução do dever pessoal
no bem de todos.
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Calou-se o Cristo, mas a assistência reduzida não ousou qualquer indagação.
Após contemplar o horizonte longínquo, em longos instantes de pensamento
mudo, o Mestre terminou:
— Em verdade, há muitos trabalhadores no mundo que merecem a bênção do
Céu pelo bem que proporcionam ao corpo e à mente das criaturas, mas aquele que
educa o espírito eterno, ensinando e servindo, paira acima de todos.

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