terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A lição da semente

Diante da perplexidade dos ouvintes, falou Jesus, convincente:
— Em verdade, é muito difícil vencer os aflitivos cuidados da vida humana. Para
onde se voltem nossos olhos, encontramos a guerra, a incompreensão, a injustiça e
o sofrimento. No Templo, que é o Lar do Senhor, comparecem o orgulho e a vaidade
nos ricos, o ódio e a revolta nos pobres. Nem sempre é possível trazer o coração
puro e limpo, como seria de desejar, porque há espinheiros, lamaçais e serpentes
que nos rodeiam. Entretanto, a ideia do Reino Divino é assim como a semente
minúscula do trigo. Quase imperceptível é lançada à terra, suportando-lhe o peso e
os detritos, mas, se germina, a pressão e as impurezas do solo não lhe paralisam a
marcha. Atravessa o chão escuro e, embora dele retire em grande parte o próprio
alimento, o seu impulso de procurar a luz de cima é dominante. Desde então, haja
sol ou chuva, faça dia ou noite, trabalha sem cessar no próprio crescimento e, nessa
ânsia de subir, frutifica para o bem de todos, O aprendiz que sentiu a felicidade do
avivamento interior, qual ocorre à semente de trigo, observa que longas raízes o
prendem às inibições terrestres... Sabe que a maldade e a suspeita lhe rondam os
passos, que a dor é ameaça constante; todavia, experimenta, acima de tudo, o
impulso de ascensão e não mais consegue deter-se. Age constantemente na esfera
de que se fêz peregrino, em favor do bem geral. Não encontra seduções irresistíveis
nas flores da jornada. O reencontro com a Divindade, de que se reconhece
venturoso herdeiro, constitui-lhe objetivo imutável e não mais descansa, na marcha,
como se uma luz consumidora e ardente lhe torturasse o coração. Sem perceber,
produz frutos de esperança, bondade, amor e salvação, porque jamais recua para
contar os benefícios de que se fêz instrumento fiel. A visão do Pai é a preocupação
obcecante que lhe vibra na alma de filho saudoso.
O Mestre silenciou por momentos e concluiu:
— Em razão disso, ainda que o discípulo guarde os pés encarcerados no lodo
da Terra, o trabalho infatigável no bem, no lugar em que se encontra, é o traço
indiscutível de sua elevação.
Conheceremos as árvores pelos frutos e identificaremos o operário do Céu
pelos serviços em que se exprime.
A essa altura, Pedro interferiu, perguntando:
—Senhor: que dizer, então, daqueles que conhecem os sagrados princípios da
caridade e não os praticam?
Esboçou Jesus manifesta satisfação no olhar e elucidou:
— Estes, Simão, representam sementes que dormem, apesar de projetadas no
seio dadivoso da terra. Guardarão consigo preciosos valores do Céu, mas jazem
inúteis por muito tempo.
Estejamos, porém, convictos de que os aguaceiros e furacões passarão por
elas, renovando-lhes a posição no solo, e elas germinarão, vitoriosas, um dia. Nos
campos de Nosso Pai, há milhões de almas assim, aguardando as tempestades renovadoras
da experiência, para que se dirijam à glória do futuro. Auxiliemo-las com
amor e prossigamos, por nossa vez, mirando a frente!
Em seguida, ante o silêncio de todos, Jesus abençoou a pequena assembléia
familiar e partiu.

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